segunda-feira, 25 de julho de 2016

As Caça-Fantasmas

Foi tanto auê, tanto mimimi, tanta polêmica. Era pra tudo isso mesmo?


Não, não era pra tudo isso. No fim das contas, foi a "polêmica pela polêmica", a polêmica como forma de marketing. A decisão de uma refilmagem/remake/reboot com elenco principal feminino resultou apenas no velho "falem mal, mas falem de mim". Ou "falem mal, mas comprem o ingresso".

O filme das Caça-Fantasmas não é excelente, nem ruim de doer. É apenas mais uma refilmagem desnecessária.

Um dos problemas deste filme é o fato de se chamar simplesmente Ghostbusters, o que promove imediatamente comparações com o original. Se o título fosse Ghostbusters New Generation ou algo assim, isto seria evitado ou amenizado. Pois, quando as comparações acontecem, fica claro que faltam ao novo filme e seus personagens charme e originalidade. 

Sempre uso as palavras do velho sábio: "é melhor imitar o bom do que inventar o ruim". Mas se vai imitar e/ou copiar, ao menos seja digno de se afirmar como imitação, ao invés de dizer que é diferente (ou até mesmo completamente original). Assim sendo, temos o personagem cínico/cético/reticente/relutante.


O personagem que tem a motivação, que acredita em tudo, deslumbrado.


O personagem nerd/deslocado/amalucado que inventa todas as traquitanas da equipe.


E o personagem "do povão", com a "sabedoria das ruas". E que, por coincidência, nos dois filmes, precisou ser afro-descendente. Justamente para manter a mesma "percepção visual" do filme original. Por que não fizeram a Patty de Leslie Jones ser uma cientista brilhante, como as outras três (e fazer uma das outras a personagem "do povão" ou até mesmo criar outro personagem para preencher esta lacuna)? Seria muito mais interessante e criativo. Mas quem reclama sobre isto é racista e sexista, não é mesmo?


Temos também o personagem bobalhão que deseja ser parte da turma. E que, em determinado momento, é possuído por uma entidade ectoplasmática.


A trama é exatamente a mesma. Quatro pessoas passando por um período difícil em suas vidas, que começam a atuar como combatentes do sobrenatural, são desacreditadas pelas autoridades, mas logo depois são chamadas para enfrentar uma invasão fantasmagórica de proporções bíblicas. 

Do quarteto principal, o grande destaque é Kate McKinnon. Seja graças ao roteiro ou a seu talento (ou ambos), sua personagem amalucada é a mais divertida e interessante das quatro. E até ouso afirmar que é a única que possui um arco, um desenvolvimento, durante a trama.


Os efeitos visuais pareciam toscos nos trailers, mas não incomodam tanto. A trilha sonora é nem um pouco marcante. Há piadas e situações envolvendo obesidade, religião, etnias, tentativas (pouco ousadas) de um humor negro e nonsense, querendo ser bacana e rir de si mesmo, mas sem conseguir esconder a "forçada de barra" e o medo de "ferir os sentimentos" de audiências cada vez mais mimizentas. Daí sobram tiradinhas fracas. E piada (sem graça) de flatulência vaginal. Podemos tomar como (mau) presságio quando um dos momentos engraçados do filme envolve gags visuais com o dedo médio.


As participações especiais do elenco original são simples e sem maiores relevâncias para a trama, ainda mais porque os atores veteranos não interpretam seus famosos personagens. Uma oportunidade perdida de fazer um agrado aos fãs de longa data (e interligar as duas produções). E ainda conseguiram arrastar atores tarimbados como Andy Garcia e Michael Kenneth Wiliiams pro meio disso tudo.

O filme ganha pontos positivos em momentos inesperados, como quando faz graça a partir de referências a filmes com Patrick Swayze, por exemplo. Ou nos poucos diálogos em que as personagens mostram um pouco de si, em que é possível criar um mínimo de empatia por elas. Os novos equipamentos usados pela equipe também rendem algumas boas cenas (surgiu um pouquinho de criatividade aqui).

Não foi a primeira vez que uma reformulação da franquia falhou, mesmo com representatividade de "minorias". O desenho Extreme Ghostbusters está aí para provar.


Isto mostra que, ao falar em Caça-Fantasmas, se espera ver Peter, Ray, Egon e Winston. Não adianta querer inovar, descaracterizar, reinventar a roda. Imagine ver Tartarugas Ninja sem Leonardo, Raphael, Donatello e Michelangelo. Sem comer pizza. Sem tartarugas ninjas mutantes adolescentes. Qual o sentido?

Este é outro grande fator que contou contra esta refilmagem. Por muito tempo, fãs esperaram por um terceiro filme com o elenco original. Foram idas e vindas e o filme nunca aconteceu. A morte de Harold Ramis parecia ser o fim definitivo. E então veio este remake. Tantos anos de espera para ter algo que ninguém desejava. É como querer uma reunião dos Beatles e, depois da morte de John, receber um show com quatro garotas também chamadas de Beatles, mas tocando músicas diferentes, enquanto Paul, George e Ringo ficam sentados nos camarotes dando "tchauzinho pra galera".

Para constar, existe um "Caça-Fantasmas 3", em formato de videogame, lançado em 2009. Apresenta uma boa trama, como continuação dos dois filmes originais. E com as vozes de todo o elenco (sim, Bill Murray também).


E para quem começar com papo politicamente correto (ou acusar o autor deste texto de sexista). a grande ironia deste filme, estrelado por mulheres, é que é justamente um homem quem rouba a cena. Chris Hemsworth demonstra ótima performance cômica diante das demais e acaba se tornando um dos personagens-chave da trama.

Este é o filme de Caça-Fantasmas que ninguém queria nem precisava, mas que todos merecemos, por vivermos e aceitarmos um momento dominado por agendas politicamente corretas, onde projetos como este são empurrados goela abaixo de audiências, mesmo que desagradem a bases de fãs há muito estabelecidas, sem acrescentar real substância ao debate que tentaram gerar. Novamente, é a polêmica apenas para fazer burburinho, ao invés da criatividade para produzir algo realmente memorável. E criatividade é algo que está escasso em Hollywood, há tempos.

Em resumo, quando o assunto é Caça-Fantasmas:
O 1º é excelente, o 2º é mediano.
O desenho de 1986 é bacana.
Alguns jogos são bons.
E o reboot é fraquinho e tem pouca graça.